Os consórcios possuem hoje em torno de sete milhões de participantes no país. Sistema de aquisição de bens e serviços baseado no autofinanciamento, frequentemente é tema de artigos, reportagens e entrevistas com especialistas em finanças. As opiniões variam, há os entusiastas, os críticos implacáveis e os moderados. Fico com os últimos.
É preciso entender que, como qualquer outro produto o consórcio possui custos, e esses podem ser, em determinadas situações, menores, em algumas situações maiores e por vezes semelhantes a outras formas de aquisição de bens e serviços.
As críticas mais comuns dizem respeito ao tempo de contemplação, comprovam os consultores que os primeiros contemplados são os que adquirem o bem com custos mais baixos do que os de um financiamento bancário. É fato que o tempo em matemática financeira é fundamental, quanto maior o prazo de contribuição melhor seria acumular as prestações em uma aplicação financeira para comprar à vista, no caso dos últimos contemplados, ou dar entrada a partir da metade do prazo, no caso dos contemplados na média do tempo do plano.
Ok, os primeiros contemplados levam uma vantagem significativa, se diluirmos a taxa de administração de 14,22% (taxa média de março/18) em um plano de consórcio de 60 meses, para aquisição de um automóvel, teremos um custo efetivo de 0,45% ao mês, bem inferior a financiamentos bancários cujas taxas variam de 1,5% a 3,5% ao mês.
E os últimos contemplados? Bem, não dá para discutir com a matemática, porém há de se considerar que os últimos não pagaram a mesma prestação durante todo o plano, visto que os reajustes do bem, que aumentaram o valor da parcela, não são retroativos, e começaram a vigorar a partir da data da atualização. Ou seja, pagaram prestações menores por um bem atualizado, diferentemente de um financiamento bancário, cujo custo final, no caso de uma taxa de 2,0% ao mês, transforma o valor de um automóvel, equivalente a R$ 40.000,00, financiado em 60 meses, por exemplo, em um valor final de R$ 69.043,12, ou seja, 73% a mais. Se considerarmos a desvalorização do bem, a variação será maior.
Comprar à vista quando se tem o dinheiro, claro, é sempre a melhor opção, mas ao decidir por uma compra a prazo o produto consórcio deve ser analisado por outros aspectos além da boa e velha matemática financeira. Pense em um produto que te auxilia no planejamento da formação de patrimônio.
Podemos fazer aqui um paralelo com planos de previdência. Há quase uma unanimidade entre os consultores financeiros de que, se a pessoa tiver disciplina para poupar e administrar seus recursos, encontrará alternativas mais vantajosas de aplicar seu dinheiro do que simplesmente contribuir mensalmente para um plano do tipo VGBL ou PGBL, que possuem custos tais como carregamento e taxas de administração. Mesmo assim muitos são aqueles que aderem a esses planos simplesmente porque não querem ter trabalho com a administração de seus recursos ou não entendem de finanças.
Da mesma forma que nos planos de previdência, ao adquirir uma cota de consórcio o consumidor considera, além do custo, os benefícios indiretos que acompanham a aquisição da cota, tais como:
- Disciplina para poupar e resistência à tentação de, na primeira oportunidade utilizar o valor acumulado para outra finalidade;
- Auxilio no planejamento da compra de bens e serviços;
- Auxilio no planejamento do seu fluxo de caixa, com prestações reduzidas que impactam menos no seu orçamento.
Considere ainda a chance de ser sorteado antes do período previsto, ou até mesmo lances que você poderá oferecer. Por fim, considere que, de posse de uma carta de crédito, você poderá comprar o bem à vista, negociando descontos que de certa forma minimizam os custos do plano.
Consumidores tem momentos de vida diferentes. Há situações em que financiamentos são mais interessantes, e há situações em que os consórcios são sim uma boa opção. Lembre-se, a decisão pela compra de uma cota de consórcio não é apenas uma decisão matemática.