“A inveja é um pecado capital, porque é pior que a cobiça. O invejoso não deseja o que é do outro, deseja apenas que o outro não tenha o que tem. Não seja o que é." Pe. Fábio de Melo.
Vou começar este texto, perguntando: Você se incomoda com o sucesso dos outros? Você percebe que o seu sucesso incomoda alguém? Pense bem, antes de responder! Se sua resposta for um “sim” categórico à uma dessas perguntas, você está dentro do padrão normal – mas, se for um “não”, sinto em dizer que você está fora deste mundo. Afinal, todos nós, mortais, sofremos desse mal.
O que não fica claro para nós, porém, é que dentro das organizações todos estão vulneráveis à disseminação deste mal. A inveja tende a proliferar-se nos ambientes onde existe uma alta competitividade e em casos de políticas de premiações. É só observarem. Seguem exemplos: a) utilizações desregradas das “doutrinas de sucesso”, b) programas de reconhecimentos “individuais” ou por “equipes” c) criação de “mitos” e “heróis” internos e externos. Essas situações causam ou não um clima de inveja?
Aquele que sente inveja (é um vírus – e tem sintomas), pode tornar-se uma pessoa amarga e desagradável no trabalho. A sua carreira passa para segundo plano, sua produtividade cai e as boas ideias desaparecem, a angústia e a ansiedade tomam conta do coração e da cabeça do sujeito.
É nesta hora, que a carreira do invejoso pode ir para o brejo. E é ele o culpado! Por outro lado, a vítima – ou o invejado, por sua vez, pode ser vítima de sabotagem, e não raro, acaba sendo fritado perante o grupo. Ou seja, invejar ou ser invejado, não é somente uma pedra no caminho, em alguns casos, pode tornar-se um morro.
Afinal, podemos deixar de sentir inveja? Podemos controlá-la? Olha, fiquem certos que não podemos nos livrar desse sentimento – ao menos, enquanto a verdadeira maturidade não chegar, dizem alguns especialistas “Invejólogos”. Mas, podemos e devemos gerenciá-la, transformando-a em uma saudável motivação para alcançarmos o que desejamos.
Eu disse que a inveja é um vírus, e sua ação é enorme. Mesmo a olho nu, podemos perceber uma grande quantidade de sentimentos ou faces envolvidas, ora em grupo, ou em alternâncias – vejamos: senso de justiça ou injustiça, inferioridade, admiração, ódio, raiva, exibicionismo, desdém, desconfiança, soberba, superioridade e até na dor.
Aquele que sente inveja, acha que está precisamente certo; e costuma ser assim no seu dia a dia. No geral, quem inveja não se dá conta de que está invejando. Vejamos o que se passa na sua cabecinha: poxa, como sou injustiçado! Ninguém percebe meu talento! Creio que forças “misteriosas” levam bonança para meus colegas, enquanto eu...! Em casos extremos, o invejoso, crê piamente que os outros usam de artimanhas para superá-lo e que, por fim, pretende trair todos na empresa.
O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa (1920 – 2010), em seu livro “O Olhar – Editora Gente”, define com riquezas de detalhes a inveja como: "É uma defesa contra a admiração que podemos sentir pelos outros. Em vez de nos dedicarmos a olhar a pessoa invejada de baixo para cima, só a olhamos de cima para baixo.” Alguém precisa falar isso para o invejoso; e essa ajuda pode vir de qualquer um de nós, colegas ou amigo de trabalho.
Os especialistas “Invejólogos”, nos ensinam como gerenciar esta questão delicada no ambiente de trabalho, para eles devemos diferenciar os “Não” dos “Sim”.
É mais ou menos, assim:
_ Digam “não”: ao individualismo, às estruturas fechadas (ou centralizadas), aos modelos autoritários, aos privilégios e as ostentações, à politicagem, e principalmente às mentiras e aos boatos.
_ Digam “sim”: ao cooperativismo e às equipes, à gestão participativa, à flexibilidade e à autonomia, aos programas salariais, à negociação de conflitos, à avaliação de méritos e aos seus potenciais (já falei muito sobre mapeamento de competências), ao bom sistema de informação (ninguém gosta de não saber o que se passa).
Por ser um ameaça constante, a pior atitude que se pode ter diante da inveja, é sair entendendo que todo gesto dos seus colegas, são uma ameaça. Todo cuidado é pouco para não transformar a inveja numa neurose e acreditar que tudo e todos na empresa te perseguem. Cabe a você chefe, gerente ou supervisor, compreender a dinâmica do trabalho na sua empresa. Entendam: Muitas coisas que em outros tempos nós chamávamos de inveja, agora têm a ver com novos papéis desempenhados pelos novos profissionais.
E para finalizar, a receita de Gaiarsa: Procure admirar quem você inveja, olhando-o de baixo para cima, como que quisesse chegar à altura dele; sem maldades ou desprezo. Além de eficaz, ela pode se tornar um exercício constante.
E vamos à luta!