O caminho para a recuperação de uma empresa envolve inúmeras providências indispensáveis. A primeira delas é a tomada de consciência, por parte dos dirigentes, de que alguma coisa precisa ser feita com urgência. Reconhecer que a empresa não está bem é uma atitude sensata, mas que pode ferir o orgulho dos dirigentes. Entretanto, o orgulho não levanta empresa alguma: no máximo joga mais lenha na fogueira. Ao invés disso, a humildade leva os dirigentes a reconhecer os erros e defeitos e a procurar o caminho lógico para equacionar a crise. O primeiro passo deve ser a realização do diagnóstico.
As crises nascem e se alastram dentro da própria empresa. As pessoas adoecem porque o organismo não consegue reagir à presença de germes; do mesmo modo, as empresas entram em crise porque o organismo – o corpo empresarial – não consegue reagir aos fatores internos e externos que causam dificuldades. A magnitude dos fatores que lhe afetam determina a magnitude da crise. Não foi à toa que a crise financeira nos Estados Unidos arrastou à falência inúmeras instituições, que foram incapazes de reagir. Porém, o comprometimento dessas instituições com operações de alto risco foi o fator determinante.
O diagnóstico é um autêntico check-up, uma visão global que indica insuficiências, que permite prever instabilidades e avaliar desequilíbrios futuros. É um instrumento insubstituível para colocar em destaque toda desarmonia entre as estruturas da empresa ou entre a empresa e a realidade sócio-econômica na qual sua ação se desenvolve. Seu pessoal está motivado? Seus produtos são rentáveis? Sua estrutura de administração, produção, marketing e vendas é adequada? Seu sistema de contabilidade e custos espelha a realidade? Já analisou seus processos e métodos de produção? O diagnóstico, portanto, é uma ferramenta indispensável em empresas de grande ou de pequeno porte, para ajudar a superar as crises e soerguer a organização.
Realizado o diagnóstico, o consultor apresentará seu relatório, amplamente discutido com a direção de empresa. Apontando os problemas encontrados, o relatório também indicará as soluções recomendadas. Entretanto, o consultor não toma decisões: apenas sugere medidas corretivas. A direção da empresa poderá recusar as recomendações e nada fazer a respeito. Ou, o que será mais sensato, resolverá atacar os problemas para soerguer a organização.
Poderão ser muitas as providências a serem implementadas: adoção do planejamento estratégico, estabelecendo objetivos e metas a curto, médio e longo prazos; implantação de uma metodologia de planejamento financeiro, com o controle do fluxo de caixa a longo prazo (120 meses); adoção do orçamento das operações anualizado, planejando todas as operações de aquisição de matérias-primas, fabricação, estocagem, vendas, faturamento, mão-de-obra, contas a receber e a pagar, fluxo de caixa, rentabilidade, balanço, apuração do resultado, etc.; adoção de uma metodologia para análise dos custos e da rentabilidade dos produtos (método 3D ou similar); adoção de sistema que analise a evolução e a tendência do desempenho da empresa nos últimos 4 anos, podendo ter o período ampliado; reformulação dos controles internos da empresa, englobando os aspectos físico e financeiro e melhorando a segurança dos dados e do patrimônio; reestruturação da contabilidade; adoção de um novo plano de contas; reestruturação do sistema de custos; implantação de um programa de otimização de custos; adoção de estudos de engenharia de valor; reestudo dos processos e métodos de fabricação (no caso de indústrias); adoção de um plano de cargos e salários que estimule a motivação do pessoal, reconhecendo e recompensando o esforço da mão-de-obra; implantação ou reformulação dos processos de auditoria interna; maior fiscalização sobre as operações de tesouraria, e outros mais, se forem necessários.
O caminho será longo, a resistência às mudanças será intensa, muita incompreensão por toda parte e a desconfiança que sempre ocorre em situações semelhantes. Porém, o dirigente não poderá ceder às pressões. Se antes, com a crise, havia um caminho nebuloso, o diagnóstico trouxe uma nova luz sobre o problema. Podemos dizer que o diagnóstico significa a empresa passada a limpo. O diagnóstico começará a traçar novos rumos para a empresa, fixando objetivos a serem perseguidos. Com as providências sugeridas pelo diagnóstico, muitos obstáculos começarão a ser removidos. Por exemplo, o Método 3D de Lucratividade fará uma análise dos fatores que estão afetando a rentabilidade dos produtos. Daí surgirão outras medidas que atacarão os problemas identificados. O plano de cargos e salários corrigirá as distorções detectadas e com certeza afetará positivamente a motivação e o entusiasmo dos colaboradores. Os gargalos da área financeira serão corrigidos com a adoção de novos e mais aperfeiçoados controles. Os processos e métodos de produção serão aperfeiçoados, reduzindo os desperdícios e melhorando o fluxo. Um novo sistema de custos proporcionará um efetivo acompanhamento e controle da produção em termos financeiros, apontando as deficiências e propiciando novas economias.
As medidas corretivas e seus resultados não ocorrem todos ao mesmo tempo. O passo inicial foi o diagnóstico. Os passos seguintes serão conseqüência dos fatos apontados. À medida em que as idéias, as sugestões, as ações corretivas forem sendo implementadas, a empresa irá passando por um processo de restauração. A seqüência dessas medidas irá desmontando a crise passo a passo. O acompanhamento pela direção da empresa permitirá aferir o progresso das correções implementadas. Entretanto, nenhuma medida corretiva poderá ser interrompida. Se isso ocorrer a empresa correrá o risco de ver a crise de volta, com a volta dos problemas não solucionados. Será como uma equipe que se ocupa em restaurar um imóvel desgastado e sujo. Os trabalhos serão feitos de forma seqüencial, refazendo a alvenaria, o reboco, o madeiramento, a hidráulica, a eletricidade e a pintura, até que o imóvel esteja totalmente restaurado. Deste modo, as correções efetuadas passo a passo deverão deixar a empresa funcionando adequadamente, tal como um motor perfeitamente ajustado e lubrificado. Quando chegar a esse ponto, quando o último problema for solucionado, poderemos dizer que a empresa estará como um veículo zero quilômetro. Esse será o momento zero: o ponto de partida para uma nova empresa, restaurada e sem crise. Esse será o objetivo do diagnóstico.
Sobre o autor: Carlos José Pedrosa é catarinense de Biguaçu, radicado em Alagoas. Tem formação em contabilidade, sendo um profissional autônomo oriundo da iniciativa privada, com mais de 40 anos de atuação em banco, na indústria siderúrgica, metalúrgica, mecânica e de laticínios, no comércio, no setor jornalístico, em estatal de abastecimento e no setor público.